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O Pix revolucionou a forma como os brasileiros lidam com dinheiro, tornando transferências instantâneas uma realidade cotidiana. Desde seu lançamento em 2020, o sistema de pagamentos do Banco Central conquistou mais de 150 milhões de usuários e processa bilhões de transações mensalmente. Entretanto, essa popularidade massiva também atraiu a atenção de criminosos que desenvolvem esquemas cada vez mais sofisticados para roubar dinheiro de vítimas desavisadas. Em 2025, os golpes envolvendo Pix atingiram um nível de complexidade alarmante, combinando engenharia social refinada com tecnologias emergentes como inteligência artificial e deepfakes.

A evolução dos golpes acompanha o avanço tecnológico da sociedade. Se nos primeiros anos do Pix os criminosos dependiam principalmente de links falsos e mensagens mal escritas, hoje enfrentamos cenários onde golpistas clonam vozes de familiares usando inteligência artificial, criam páginas falsas indistinguíveis das originais e até mesmo fazem ligações se passando por atendentes de banco com scripts ensaiados e convincentes. A sofisticação dessas fraudes chegou a um ponto onde até usuários experientes podem ser enganados se não estiverem constantemente atentos e informados sobre as táticas mais recentes.

O Cenário Atual dos Golpes do Pix no Brasil

Os números oficiais revelam uma realidade preocupante. Segundo dados consolidados da Federação Brasileira de Bancos, apenas no primeiro semestre de 2025, mais de 3,2 milhões de tentativas de golpes envolvendo Pix foram registradas pelas instituições financeiras brasileiras. Desse total, aproximadamente 680 mil resultaram em perdas efetivas para as vítimas, movimentando um montante estimado em 2,4 bilhões de reais. Esses valores representam um crescimento de 47% em relação ao mesmo período do ano anterior, demonstrando que apesar dos esforços de conscientização, os criminosos continuam refinando suas técnicas com sucesso alarmante.

O perfil das vítimas mudou significativamente ao longo dos anos. Inicialmente, golpistas focavam principalmente em pessoas mais velhas ou com menor familiaridade tecnológica. Hoje, o cenário é diferente. Jovens adultos entre 25 e 40 anos representam quase 40% das vítimas, muitas vezes por excesso de confiança em sua própria capacidade de identificar fraudes. Profissionais qualificados, incluindo médicos, advogados e empresários, aparecem com frequência nos boletins de ocorrência, provando que educação formal e poder aquisitivo não são barreiras suficientes contra golpistas bem treinados.

Golpes Mais Comuns em 2025 e Como Funcionam

O golpe do falso funcionário de banco continua sendo um dos mais efetivos e passou por atualizações significativas. Criminosos obtêm dados pessoais através de vazamentos na dark web ou compram listas de clientes em fóruns clandestinos. Com essas informações em mãos, ligam para as vítimas se apresentando como funcionários do banco, departamento de segurança ou até mesmo como representantes do Banco Central. O diferencial em 2025 está na qualidade da abordagem: os golpistas conhecem detalhes precisos sobre a conta da vítima, como saldo aproximado, últimas transações e até mesmo o nome do gerente real da agência. Durante a ligação, criam um senso de urgência informando sobre supostas transações suspeitas ou tentativas de invasão na conta. Para "proteger" o dinheiro, solicitam que a vítima faça transferências para uma "conta segura" ou forneça códigos de autenticação que chegam por SMS.

A clonagem de WhatsApp evoluiu para um nível profissional de execução. Criminosos não apenas assumem o controle da conta da vítima, mas passam dias estudando o padrão de comunicação da pessoa, analisando conversas antigas para imitar seu estilo de escrita, uso de emojis e até horários habituais de atividade. Quando finalmente partem para o golpe, enviam mensagens aos contatos da vítima pedindo transferências via Pix com histórias elaboradas e personalizadas. O que torna esse golpe particularmente cruel é que explora a confiança entre pessoas próximas. Familiares e amigos, ao receberem uma mensagem aparentemente legítima de alguém querido em situação de emergência, frequentemente realizam transferências sem questionar, apenas para descobrirem depois que conversaram com criminosos.

Os sites e aplicativos falsos atingiram um grau de perfeição visual impressionante em 2025. Utilizando tecnologias de web scraping e design avançado, golpistas criam réplicas perfeitas de páginas de bancos, lojas online e até mesmo de plataformas governamentais. Esses sites falsos geralmente são divulgados através de anúncios patrocinados em redes sociais, e-mails de phishing extremamente convincentes ou mensagens em grupos de WhatsApp. Quando a vítima acessa o site fraudulento e tenta realizar um pagamento via Pix, o código QR apresentado na tela direciona o dinheiro para a conta dos criminosos. Em alguns casos mais sofisticados, após capturar os dados de login bancário da vítima, os golpistas conseguem acesso total à conta, realizando múltiplas transações antes que o crime seja descoberto.

O golpe da falsa central de devolução ganhou força principalmente após compras online. A vítima recebe um contato de supostos representantes da loja ou transportadora informando sobre problemas com a entrega ou com o produto. Para resolver a situação e processar o estorno, solicitam que a vítima realize um Pix de qualquer valor para "validar a conta" ou "liberar o sistema de reembolso". Prometem que o valor será devolvido imediatamente junto com o reembolso do produto original. Naturalmente, após a transferência ser realizada, os golpistas desaparecem completamente e a vítima percebe que perdeu dinheiro em vez de recebê-lo.

A Ameaça Emergente dos Deepfakes e IA

Uma das evoluções mais perturbadoras no universo dos golpes de 2025 é a utilização de inteligência artificial generativa para criar deepfakes de voz e vídeo. Criminosos utilizam ferramentas de clonagem de voz, muitas disponíveis gratuitamente na internet, para replicar a fala de qualquer pessoa com base em poucos segundos de áudio. Esses áudios de referência são facilmente obtidos através de vídeos publicados em redes sociais, stories do Instagram ou até mesmo gravações de secretárias eletrônicas. Com a voz clonada, ligam para familiares da vítima se passando por ela, relatando situações de emergência que exigem transferências urgentes via Pix.

Casos documentados mostram situações onde criminosos ligaram para pais idosos usando a voz clonada de seus filhos, simulando sequestros ou acidentes graves. A qualidade do áudio gerado por IA atingiu um ponto onde, em uma ligação telefônica com qualidade de linha reduzida e sob pressão emocional, torna-se praticamente impossível distinguir a voz falsa da verdadeira. Alguns golpistas mais sofisticados chegam a criar videochamadas falsas usando deepfakes de vídeo, embora essa técnica ainda seja menos comum devido à complexidade técnica e ao risco de falhas visíveis que possam alertar a vítima.

Configurações de Segurança Essenciais no Aplicativo do Banco

A primeira linha de defesa contra golpes do Pix está nas configurações nativas do aplicativo bancário, recursos que a maioria dos usuários desconhece ou negligencia ativar. Praticamente todos os bancos brasileiros oferecem a possibilidade de estabelecer limites personalizados para transações Pix, tanto para o período diurno quanto noturno. Reduzir significativamente esses limites, especialmente no período noturno quando a maioria dos golpes acontece, pode impedir que criminosos drenem completamente sua conta mesmo se conseguirem acesso ao aplicativo. Configure limites realistas baseados no seu padrão real de gastos, não no valor máximo que o banco permite.

A autenticação biométrica em duas etapas deve ser ativada sem exceções. Além da senha tradicional, configure reconhecimento facial e impressão digital para qualquer transação acima de determinado valor. Muitos aplicativos bancários agora oferecem também autenticação por token temporário gerado no próprio app, uma camada adicional que dificulta drasticamente a ação de criminosos mesmo que tenham sua senha. Desative a opção de lembrar senha ou manter login ativo por períodos prolongados. Embora seja menos conveniente, inserir suas credenciais a cada acesso reduz significativamente as janelas de oportunidade para invasores.

Ative notificações instantâneas para absolutamente todas as transações realizadas na sua conta, independentemente do valor. Configure alertas via SMS, push notification do app e até mesmo e-mail. Essa redundância garante que você será informado imediatamente sobre qualquer movimentação suspeita, permitindo acionar rapidamente os canais de contestação do banco. Alguns bancos oferecem ainda a funcionalidade de solicitar confirmação ativa para transações acima de certo valor, onde você precisa aprovar a operação através de um código ou autenticação biométrica mesmo depois de já estar logado no aplicativo.

Revise regularmente a lista de dispositivos conectados à sua conta bancária. Criminosos frequentemente conseguem vincular dispositivos às contas das vítimas sem que elas percebam. Nos menus de segurança, procure por opções como "dispositivos autorizados" ou "gerenciar acessos" e remova qualquer aparelho que você não reconheça ou não utilize mais. Estabeleça o hábito de fazer essa verificação mensalmente, transformando-a em parte da sua rotina de higiene digital.

Como Identificar Tentativas de Golpe em Tempo Real

Desenvolver sensibilidade para sinais de alerta pode fazer toda diferença entre cair em um golpe ou evitá-lo. O primeiro e mais importante indicador é a criação artificial de urgência. Golpistas trabalham sistematicamente para eliminar seu tempo de reflexão, pressionando para que você tome decisões imediatas sem consultar outras pessoas ou verificar informações. Mensagens ou ligações que usam frases como "precisa ser agora", "sua conta será bloqueada em minutos" ou "última chance para evitar prejuízo maior" são enormes bandeiras vermelhas que devem ativar imediatamente seu modo de alerta máximo.

Desconfie profundamente quando alguém, especialmente se apresentando como funcionário de banco ou autoridade, solicita que você realize transferências, forneça senhas completas ou códigos de autenticação. Nenhuma instituição financeira legítima jamais pedirá esses dados ou solicitará que você transfira dinheiro para "protegê-lo". Bancos possuem mecanismos internos para bloquear transações suspeitas e proteger contas comprometidas que não envolvem a participação ativa do cliente através de transferências. Se receber esse tipo de solicitação, mesmo que todos os outros elementos pareçam legítimos, você está diante de uma tentativa de fraude.

Verifique minuciosamente URLs antes de inserir qualquer dado sensível ou realizar pagamentos. Sites falsos frequentemente utilizam endereços muito similares aos originais, com pequenas variações como letras trocadas, hífens adicionais ou extensões de domínio diferentes. Em vez de clicar em links recebidos por e-mail ou mensagens, digite manualmente o endereço do banco ou loja na barra do navegador. Observe também se o site possui certificado de segurança válido, indicado pelo cadeado verde e pelo protocolo HTTPS no início do endereço.

Quando receber mensagens de contatos conhecidos pedindo dinheiro via Pix, implemente uma regra inviolável: sempre confirme através de outro canal de comunicação. Ligue para a pessoa usando um número que você já tem salvo, nunca use um número fornecido na própria mensagem suspeita. Faça uma videochamada, envie uma mensagem por outra plataforma ou, se possível, confirme pessoalmente. Criminosos que clonam WhatsApp têm controle apenas daquele aplicativo específico, portanto a confirmação através de canais alternativos expõe imediatamente a fraude.

O Que Fazer Imediatamente Se Cair em um Golpe

A velocidade de reação nos primeiros minutos após perceber que foi vítima de um golpe pode ser determinante para recuperar seu dinheiro. Assim que identificar a fraude, entre imediatamente em contato com seu banco através dos canais oficiais, preferencialmente pelo telefone ou chat do aplicativo. Informe que foi vítima de golpe e solicite o bloqueio imediato de sua conta e de suas chaves Pix. A maioria dos bancos possui protocolos específicos para essas situações e pode tentar bloquear as transações fraudulentas caso elas ainda não tenham sido completamente processadas ou o dinheiro ainda não tenha sido sacado.

Registre um boletim de ocorrência o mais rápido possível, preferencialmente ainda no mesmo dia. Muitos estados brasileiros permitem registro online através de delegacias virtuais, acelerando significativamente o processo. O boletim de ocorrência não é mera formalidade burocrática; ele é documento essencial para acionar mecanismos de ressarcimento, processar investigações policiais e eventual abertura de processos judiciais. Documente todos os detalhes possíveis: horários, valores, números de telefone ou contas envolvidas, capturas de tela de conversas, e-mails ou mensagens relacionadas ao golpe.

Acione imediatamente o Mecanismo Especial de Devolução (MED) do Pix, implementado pelo Banco Central especificamente para casos de fraude. Através desse sistema, seu banco pode solicitar à instituição que recebeu a transferência fraudulenta o bloqueio cautelar dos valores e eventual devolução. O MED possui prazos específicos e quanto mais rápido for acionado, maiores as chances de sucesso. Importante destacar que esse mecanismo não garante a recuperação do dinheiro, mas cria uma camada adicional de pressão e rastreamento que pode resultar na identificação dos criminosos e bloqueio de valores antes que sejam dispersados.

Comunique o ocorrido a pessoas próximas, especialmente se o golpe envolveu clonagem de WhatsApp ou acesso a suas contas em redes sociais. Criminosos frequentemente aproveitam o acesso inicial para expandir o golpe, contatando seus amigos e familiares. Um aviso preventivo em outras redes sociais ou através de contatos de confiança pode evitar que pessoas do seu círculo também sejam vítimas. Além disso, se o golpe envolveu comprometimento de senhas, altere imediatamente todas as suas credenciais, não apenas as da conta bancária, mas também de e-mail, redes sociais e quaisquer outros serviços que utilizem senhas semelhantes.

Educação Digital e Prevenção Contínua

A melhor defesa contra golpes é uma combinação de vigilância constante, educação continuada e ceticismo saudável. Mantenha-se atualizado sobre novas modalidades de fraude através de fontes confiáveis como sites oficiais do Banco Central, federações bancárias e veículos de comunicação respeitados. Golpistas evoluem suas técnicas constantemente, e o que funcionava como proteção há seis meses pode não ser mais suficiente hoje. Participe de comunidades online focadas em segurança digital, onde usuários compartilham experiências e alertas sobre tentativas de golpe em tempo real.

Eduque também as pessoas ao seu redor, especialmente aquelas mais vulneráveis como idosos e adolescentes. Muitas vezes, uma conversa franca sobre os riscos e métodos utilizados por criminosos pode prevenir tragédias financeiras. Estabeleça códigos de segurança com familiares próximos, palavras ou frases específicas que devem ser mencionadas em situações onde dinheiro está envolvido, criando uma camada adicional de verificação que golpistas não conseguirão replicar mesmo com acesso a informações pessoais ou tecnologias de deepfake.

Pratique higiene digital básica regularmente: mantenha sistemas operacionais e aplicativos sempre atualizados, evite conectar-se a redes Wi-Fi públicas para realizar transações bancárias, utilize gerenciadores de senha para criar credenciais fortes e únicas para cada serviço, e implemente autenticação de dois fatores em absolutamente todas as plataformas que oferecem essa opção. Essas práticas, embora possam parecer trabalhosas inicialmente, tornam-se segunda natureza com o tempo e elevam drasticamente seu nível de proteção contra diversos tipos de ameaças digitais.

O Pix veio para ficar e continuará sendo parte fundamental do ecossistema financeiro brasileiro. A responsabilidade de torná-lo seguro é compartilhada entre instituições financeiras, autoridades reguladoras e, principalmente, os próprios usuários através de comportamento consciente e informado. Ao implementar as defesas e práticas descritas neste guia, você não apenas protege seu próprio patrimônio, mas contribui para tornar o ambiente digital brasileiro mais seguro para todos.