Com o apoio de gigantes internacionais, players investem para atender a uma demanda crescente

Nas ruas alagadas de Porto Alegre, no início de maio, barcos navegavam em busca de abrigo com uma carga incomum. Enquanto a maioria transportava pessoas, animais e suprimentos, alguns levavam máquinas com dados essenciais para o funcionamento de serviços públicos e hospitais da cidade. Eles procuravam data centers operacionais durante o caos que a capital do Rio Grande do Sul vivenciava.

A Importância Crescente da Computação em Nuvem

Essa cena ilustra a importância crescente da tecnologia de computação em nuvem (cloud computing) na última década e como os data centers se tornaram vitais. Com a chegada de iniciativas ligadas à inteligência artificial generativa (GenAI) e outras tecnologias, a demanda por espaços para hospedar servidores aumentará ainda mais. Dos quase 12 mil data centers pelo mundo, o Brasil tem 181 – um número que certamente crescerá.

Gigantes da Tecnologia e o Interesse no Brasil

Além das grandes empresas mencionadas, outras gigantes de tecnologia, como Amazon, Google e Microsoft, têm mostrado interesse crescente em expandir suas operações de data centers no Brasil. Essa movimentação é reflexo direto do aumento na demanda por serviços baseados em inteligência artificial (IA) e computação em nuvem. A implementação de IA, em particular, requer não apenas capacidade de processamento massiva, mas também latência mínima, o que torna a proximidade geográfica dos servidores um fator crucial.

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Crescimento do Mercado Brasileiro de Data Centers

O mercado brasileiro de data centers vale atualmente US$ 4,6 bilhões, representando 1,4% do mercado global, que soma US$ 330 bilhões. Em quatro anos, o Brasil pode chegar a US$ 6,5 bilhões, ou 1,5% do mercado global, que alcançará US$ 440 bilhões. A matriz energética majoritariamente limpa do Brasil torna o país um grande candidato a atrair investimentos em servidores por parte de empresas globais de tecnologia. Vale lembrar que servidores podem ser instalados em qualquer lugar do planeta.

Investimentos e Grandes Players no Brasil

Gestoras internacionais e bancos de investimento estão apostando na América Latina, especialmente no mercado brasileiro. Exemplos disso são a Ascenty, uma joint venture entre a Digital Realty e a canadense Brookfield, e a Elea Digital, fundada pela gestora Piemonte e com o banco americano Goldman Sachs como sócio. Ambas estão entre os maiores players do segmento no país e já emitiram quase uma dezena de bilhões em dívida para atender ao crescimento da demanda por data centers.

Impacto da IA na Demanda por Data Centers

Desde novembro de 2022, com a introdução da inteligência artificial generativa pelo ChatGPT, a demanda por data centers subiu significativamente. A IA requer um poder de processamento colossal, aumentando a necessidade de novos data centers. Gustavo Sousa, presidente-executivo da Ascenty, destaca que o investimento bilionário é possível devido à contínua procura. Desde fevereiro do ano passado, a Ascenty já acessou US$ 1,55 bilhão no mercado de dívida do México, Brasil e Chile.

Expansão da Ascenty e a Necessidade de Energia

A Ascenty constrói projetos do zero (greenfield), mas depende de grandes clientes (hyperscale) para garantir esses investimentos. Atualmente, a empresa possui 34 data centers na América Latina, sendo 26 no Brasil. Os servidores de IA consomem de cinco a dez vezes mais eletricidade que os servidores de cloud, e a tendência é que data centers dedicados exclusivamente à IA se tornem comuns na América Latina.

Eletrobras e a Necessidade de Energia Limpa

Ivan Monteiro, CEO da Eletrobras, ressalta que a IA requer data centers poderosos e com energia limpa. A Elea Digital, por sua vez, adotou uma estratégia de crescimento baseada em aquisições, comprando unidades de empresas como Oi, Grupo Globo e Tim. Para atender à demanda crescente, a Elea planeja investir pelo menos R$ 5 bilhões nos próximos cinco anos.

Desafios de Infraestrutura para Data Centers

A infraestrutura é um desafio crucial para a expansão dos data centers. Eles precisam de um ambiente energizado e ventilado, com eletricidade abundante e backup. Segundo a Agência Internacional de Energia (AIE), os data centers consumiram cerca de 3% da eletricidade global em 2022, e esse número pode triplicar em dez anos.

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Desafios Regionais e Vantagens do Brasil

A maior concentração de data centers está nos Estados Unidos e Europa, mas a geração de energia elétrica e a oferta de água são desafios, especialmente com as estratégias de descarbonização das empresas de tecnologia. O Brasil, com 85% da energia gerada por fontes renováveis, tem um potencial significativo para absorver essa demanda. No entanto, há desafios de transmissão de energia, especialmente para a nova geração solar e eólica do Nordeste.

Conectividade e Infraestrutura de Fibra Ótica

Além da eletricidade, a conectividade é crucial para o funcionamento eficiente dos data centers. A Ascenty, por exemplo, construiu 5 mil quilômetros de rede própria de fibra ótica. A proximidade com cabos submarinos que conectam o Brasil à internet global é um diferencial competitivo.

Experiência e Qualificação no Mercado Brasileiro

O Brasil, com um mercado de data centers estruturado há mais de uma década, oferece segurança e experiência para grandes empresas de tecnologia. Segundo Alessandro Lombardi, da Elea, o país já conta com engenheiros especializados e profissionais relevantes, essenciais para o desenvolvimento do setor.

Assim, o Brasil está se posicionando para se tornar um hub importante para data centers, atraindo investimentos significativos e se preparando para atender à crescente demanda impulsionada pela inteligência artificial.

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